terça-feira, 29 de março de 2011

O fim das Compras Coletivas


Em The Innovator's Solution: Creating and Sustaining Successful Growth Clayton Christensen* mostra que a grande explosão de vendas das inovações ocorre quando elas começam a alcançar aqueles consumidores que não faziam parte do mercado original- seja porque o produto era caro demais, ou complicado demais.

O vertiginoso crescimento das compras coletivas é motivado exatamente por este segmento: os não-consumidores. É gente que não pula de paraquedas com frequência, não faz peeling de diamante ou drenagem linfática todo mês, nem curso de mergulho todo feriado.
Saltando de Paraquedas
- Vamos lá que tá barato demais!
A maioria nunca fez isso na vida - e jamais voltará a fazê-lo. Mas quando o custo da experimentação cai drasticamente, estes consumidores pensam melhor.
Algumas vezes, no entanto, o lojista não tem estrutura para atender à explosão de consumo com a qualidade prometida, prejudicando tanto os clientes novos (os ex-não-consumidores) quanto os antigos. Alguns investem em novas instalações, matéria prima e pessoal para receber um volume de clientes que jamais se repetirá.
Apesar de o impulso inicial das ofertas ter resultado imediato, o novo patamar de demanda raramente se mantém. Seja porque o comerciante não aguenta ficar comprando clientes por tanto tempo, ou mesmo porque este cliente não se interessou, de fato, por aquilo que queria apenas experimentar.
Jay Goltz é um pequeno comerciante de Chicago que corrobora esta visão em seu blogno The New York Times. Depois de usar os serviços do Groupon poucos clientes se tornaram cativos - o que, segundo ele, é incomum no seu negócio. "Fico preocupado com o potencial dano que uma oferta pode causar à marca. Ofertas são um risco ao que chamo de integridade do preço", afirma.
Esta é a diferença fundamental entre o não-consumidor de Christensen e o dos cupons de oferta, pois assim que todos os não-consumidores tiverem experimentado sua dose de novidade, as ofertas servirão apenas para achatar margens de lucro. E deixar um enorme rombo para trás.
Caixa registradora
Goupon rejeitou recentemente oferta de US$ 6 bilhões
Mas nem todo mundo sairá perdendo. A altíssima comissão do site (entre 25% e 50%) significa que o lojista tem um sócio - que só compartilha o lucro, jamais o prejuízo ou outro contratempo resultante da venda.
No Brasil, os seis maiores "sócios" dos lojistas responderam por 80% dos 1,3 milhão de vouchers vendidos em janeiro deste ano. Já existem, inclusive, os sites de revenda de cupons de descontos.
Um destes agregadores de descontos recentemente abriu 200 vagas em seu departamento comercial, oferecendo ganhos entre R$ 8 mil e R$ 15 mil, sendo que a pessoa poderia trabalhar de casa. Se eu não entendesse nada de varejo, nem de compras na Internet, isso já me bastaria para desconfiar que há algo muito errado aí.
FAZENDO AS CONTAS
Os comerciantes que estão tendo problemas com este tipo de iniciativa têm ao menos um ponto em comum: eles não fazem as contas. A matemática por trás das contas coletivas partem de uma premissa básica: é um gasto (ou investimento, como queira) em publicidade. Só que em vez de pagar à agência e ao anunciante, o lojista abre mão de parte da sua receita. Uma boa parte, diga-se.
O ótimo Is Groupon Good for a Small Business analisa algumas das variáveis envolvidas no cálculo de payback de uma promoção deste tipo. Há pelo menos uma dúzia de variáveis envolvidas, muitas das quais nem passam pela cabeça do empresário antes de ele se decidir pela promoção. Se você tiver preguiça de ler, pode baixar aqui uma planilha que fiz com as simulações (arquivo em Excel - 12,3Kb)
Além dos custos envolvidos na planilha, é importante verificar outras implicações mais abstratas, como o impacto à marca (já citado por Goltz) e o efeito nos funcionários de um grande fluxo de clientes.
O FUTURO
Compras coletivas fazem sentido para serviços perecíveis, com um custo fixo proporcionalmente alto ou itens facilmente escaláveis.
Bilhetes aéreos são perecíveis, pois o avião decola sempre com o mesmo número de poltronas, independentemente de elas terem sido vendidas ou não. O mesmo vale para a diária do hotel, pois o dia passa estando o quarto ocupado ou vazio. Em ambos os casos os custos fixos são altos com relação à despesa extra de se ter mais um cliente. Ou mais cem.
Gutenberg-press
Altamente escalável
Livros são facilmente escaláveis, pois quando se escreve um, pode-se reproduzi-lo indefinidamente. O pulo do gato aqui está em vender (e receber!) antes de produzir e na quantidade exata que será consumida. Não há variações tão imprevistas que não possam ser acomodadas e não há desperdício.
Os setores que mais movimentam o sites de compras coletivas hoje, no entanto, têm um perfil muito diferente do descrito acima. Restaurantes e salões de beleza, por exemplo, têm limitações de espaço, pessoal e matéria prima e não conseguem se adaptar tão rapidamente à elasticidade da demanda que as ofertas impõem. Ao menos não com a qualidade esperada.
Outros segmentos nos quais se utiliza o serviço uma vez na vida também não fazem sentido, como clareamento nos dentes. É puro achatamento de margem. Como escreveu Goltz em seu artigo, "quando você cobra o preço cheio de alguns clientes e metade de outros, uns ficarão satisfeitos e outros não. Só que você está satisfazendo os clientes errados!"
Por isso tudo, arrisco-me a dizer: sites de compras coletivas não venderão panetone esse ano.
Por Rodolfo Araújo

segunda-feira, 28 de março de 2011

Decisões tomadas com base em critérios emotivos: quando se ganha e quando se perde?

A cultura e a política da empresa onde o profissional atua são determinantes nessas situações

No mercado de trabalho, dependendo do cargo que se ocupa, cada decisão tem um determinado peso. E grande parte delas gera alguma consequência, em maior ou menor grau, para as empresas ou para a própria carreira do profissional. No meio do caminho, a escolha feita pode ajudar ou prejudicar a trajetória profissional. E isso é natural, tendo em vista que em cada decisão existe um fator que pode ser um complicador ou um facilitador de todo esse processo: as emoções.
"As emoções nos acompanham o tempo todo e são importantes, pois nos fornecem pistas de como estamos e quem somos", afirma a psicóloga Clarice Barbosa. Ela explica que hoje existe uma linha tênue entre o âmbito profissional e o emocional. Em muitos casos, essa linha sequer existe – o que contribui para a existência de profissionais extremamente emotivos, que fazem suas escolhas de carreira baseadas apenas em questões emocionais.

A extinção da separação vida pessoal e profissional tem uma explicação bem racional. O mercado está mais competitivo, as informações chegam a todo momento e de maneira desenfreada e a qualificação para se dar bem na carreira tem de ser constante. Tudo isso, contando com o aumento do volume de trabalho, é o que explica a demanda por profissionais "multitarefa". O problema é que o dia continuou tendo 24 horas. "É muita informação em pouco tempo e não conseguimos ter tempo para pensar e aprofundar nada. Nossa mente tem um tempo interno. E não estamos respeitando esse tempo", explica a psicóloga.

Não é à toa a velha afirmação de que só é possível ter qualidade de vida quando se separa, ao menos, a vida profissional da pessoal. Para muitos profissionais, no entanto, essas duas esferas se tornaram uma só. As emoções, a partir daí, afloram mais. E vai ficando cada vez mais difícil saber quando a decisão a ser adotada foi baseada mais em critérios racionais que emocionais.

O racional x o emocional

"Profissionais mais emotivos aprenderam desde cedo a lidar com situações externas utilizando as emoções", explica Clarice. "Com isso, eles acreditam que conseguirão tudo o que querem", afirma a psicóloga que conta conhecer casos de pessoas que choravam a cada crítica que recebiam do líder ou de colegas. Elas agem assim, explica Clarice, porque, de maneira geral, os emotivos estendem para o âmbito profissional emoções típicas da vida pessoal.

     Jason Salmon/ iStockPhotos    
       
    A cultura e a política da empresa onde o profissional atua são
determinantes nessas situações 
   


Casos, por exemplo, de profissionais que recusam novas oportunidades por não quererem romper o vínculo que criaram com os atuais colegas de trabalho são comuns. "Nesse caso, a decisão se relaciona com a carência afetiva desse profissional", explica a psicóloga. Profissionais mais racionais não perderiam novos desafios por amizades dentro da empresa. "Eles estão pensando no progresso profissional", afirma.

"Com certeza, toda ação e decisão feita e adotada por impulso é complicada", afirma a headhunter da De Bernt Entschev Human Capital Cristina Reininger. A especialista explica que profissionais que adotam critérios apenas emotivos para a tomada de decisão podem se prejudicar no mercado. "Eles podem ser vistos como imaturos", considera.

Um profissional que tem um comportamento mais emotivo, na avaliação de Cristina, é mais inseguro. Ela enfatiza, porém, que esse comportamento pode ser mais ou menos constante em determinadas profissões. A cultura e a política da empresa onde esse profissional atua também são determinantes na acentuação dessa característica. "Sempre tem uma influência do momento pelo qual esse profissional passa", avalia Cristina.

Consequências

Uma das consequências de se agir baseado nas emoções é justamente a estagnação da carreira, ou porque o profissional não percebe que isso está acontecendo ou pelo fato de ele cometer erros constantes. "Profissionais racionais pensam muito e agem menos. Os emotivos agem mais e, por isso, também erram mais", explica Clarice.

Outra consequência é o estresse. Um profissional mais racional nega o que sente e o emotivo é mais aberto a isso. "Com isso, o estresse pode ser maior no emotivo e pode até mascarar uma depressão", avalia a psicóloga. Tudo isso não significa dizer que ser racional é melhor quando se trata de desenvolvimento da carreira. Um líder que é muito racional, por exemplo, pode deixar de lado o bem-estar dos seus colaboradores, e pode acabar não tendo sucesso devido a isso.

Se não podemos contra elas...

Não importa se você está no trabalho ou em casa, brigando com seu líder ou com seu namorado, as emoções estarão presentes, em menor ou maior grau, dependendo da situação e do local. A grande questão, para as especialistas consultadas, não é o fato de as emoções estarem presentes nas escolhas de carreira. Mas sim o fato de elas atuarem em excesso.

E já que é impossível se desvencilhar das emoções, então, para minimizar erros, o ideal seria tentar equilibrá-las. "O profissional tem de saber administrar e organizar suas emoções", afirma Cristina. "Para isso, é preciso ampliar o autoconhecimento e a autoconfiança. Um profissional confiante não vai se deixar abalar por determinadas situações", explica a headhunter.

Para ela, um planejamento de carreira, nessas horas, é fundamental. Ainda que o profissional não siga essa linha à risca, ao menos ela indicará um caminho possível, com largada e chegada. Com isso, apesar de todas as situações que ele venha a enfrentar, ele conseguirá estabelecer critérios mais racionais em prol dessa meta de carreira.

"Esse profissional precisa ter um contraponto. Não pode ser só emoção ou só racional. Ele precisa voltar para si mesmo e perceber se essas decisões o ajudarão no futuro", considera Clarice. "Isso é inteligência emocional: utilizar as emoções a seu favor", considera. Ela lembra que a tomada de decisões envolve a emoção, a razão e a intuição. E que o equilíbrio desses fatores é importante. "As emoções são positivas. As atitudes que nós temos em decorrência de uma emoção é que podem nos prejudicar". 

Siga os posts do Administradores no Twitter: @admnews.

Conflito de gerações



Muito se fala do tal conflito de gerações, a diferença entre valores dos Baby-Boomers, os Geração X e a atual Geração Y. Eu tenho uma opinião clara sobre isso: Pura Besteira.
Dia desses estava lendo um artigo no Estadão sobre a Geração Y que descrevia o que esses profissionais mais levam em conta na hora de escolher uma empresa para trabalhar. Segue a lista abaixo, não necessariamente em ordem de prioridade: 
- Ambiente de trabalho agradável; - Qualidade de vida; - Crescimento profissional; - Boa imagem no mercado; - Desenvolvimento profissional
Sério? Isso é o que a Geração Y quer? Eles e toda a torcida do Flamengo. Quem não quer, afinal, trabalhar em uma empresa com essas características? Se nada disso é novidade, onde está a razão de tal conflito? O que faz com que exista um problema de comunicação entre a geração Y e os profissionais de gerações anteriores? 
Expectativas, tudo não passa de gerenciamento de expectativas. Se todos buscam trabalho em empresas com características acima descritas, também é notório que ainda são poucas as que de fato isso oferecem. Colocado de forma nua e crua, o conflito de gerações nada mais é do que um conflito entre os que anseiam uma empresa melhor e os que já se acomodaram com a empresa que tem. Melhor dito: É um conflito entre os que querem mudar, mas não sabem como, e os que sabem como mudar, mas não querem.
Simples assim. 
Claro, não sou ingênuo a ponto de pensar que todas as organizações são capazes de fazer essa transformação e oferecerem as condições de trabalho desejadas pelas novas gerações. E, certamente, levam vantagem as que já nasceram com esses valores no seu DNA. Mas, o destino daquelas que não conseguirem mudar me parece claro: Estarão fadadas ao esquecimento ou a mediocridade, o que vier primeiro. 
Essa é a má notícia.
A boa notícia é que o "conflito" de gerações é também uma tremenda oportunidade, e falo disso por experiência própria. Cada vez que eu converso com um Y me olho em um espelho que reflete o passado. Vejo a paixão, aquela faísca, a certeza de que ainda posso mudar o mundo. Isso me revigora como profissional e me relembra constantemente a razão de estar aqui. Vejo também a ansiedade, às vezes, a truculência, características que também me recordam do jovem Jack. Mas, é justamente aí que posso ajudar. 
Tenho certeza de que o papel das gerações anteriores é desenvolver e incentivar as novas gerações, para que eles se tornem agentes mais efetivos de mudança. Juntos, X, Y e Baby Boomers formam uma tríplice imbatível para as empresas que souberem aproveitar o melhor de cada geração, com vistas à construção de um objetivo comum e, quem sabe, um futuro melhor.
Por Jack DelaVega

quinta-feira, 24 de março de 2011

Ficha Limpa: só outra consulta ao STF resolve


há chance de a regra virar letra morta e também não valer em 2012


O julgamento no Supremo Tribunal Federal sobre um caso da Lei da Ficha Limpa invalidou a regra para a eleição de 2010.

Dos 11 ministros do STF, 6 votaram contra a validade da Lei da Ficha Limpa em 2010. Outros 5 foram a favor. O argumento principal para derrubar a regra foi o princípio da anterioridade. É que a legislação entrou em vigor já no período eleitoral –deveria ter sido sancionada 12 meses antes.

Mas um problema maior ainda parece ser a enorme dúvida sobre se a Lei da Ficha Limpa vai valer nas próximas eleições.

Havia um certo senso comum em Brasília a respeito de que, pelo menos, a Lei da Ficha Limpa valeria por completo no ano que vem, 2012, depois, em 2014, e assim por diante.

Mas esse entendimento estava errado. No julgamento de hoje (23.mar.2011), no Supremo Tribunal Federal, os votos de alguns ministros sinalizaram outros problemas na Lei da Ficha Limpa.

É que a regra determina que quem é condenado por uma instância judicial colegiada (por exemplo, por um grupo de juízes), já será considerado um Ficha Suja. Não pode disputar a eleição.

Só que na Constituição há o princípio da presunção da inocência. Só se pode ser considerado culpado por um crime, condenado em definitivo, quem perder em todas as instâncias possíveis. Ou seja, haveria um conflito entre a Lei da Ficha Limpa e o texto constitucional.

Por essa razão, abre-se nas próximas eleições uma janela de oportunidade para muitos políticos serem candidatos argumentando que não podem ser privados do direito da presunção da inocência. E não esqueçamos: 2012 é ano de eleição de prefeitos e vereadores. Coisa de uns 400 mil candidatos.

Nesse caso, a Lei da Ficha Limpa vai se tornar letra morta. Até porque haverá um tsunami de ações de candidatos entupindo a Justiça Eleitoral em todos os Estados.

Como solucionar o problema?
Só há uma possibilidade: requerer formalmente ao Supremo Tribunal Federal que analise artigo por artigo da Lei da Ficha Limpa e diga se essa legislação é ou não constitucional –para valer nas próximas eleições.

Quem tem poder para fazer isso são entidades organizadas nacionalmente (a OAB, por exemplo) ou congressistas.

E é bom que essa consulta seja realizada a jato. De outra forma, nós brasileiros, vamos de novo votar no ano que vem para prefeitos e vereadores sem saber se os candidatos estão dentro ou fora da lei.

Por Fernando Rodrigues




quarta-feira, 23 de março de 2011

Humanização do Atendimento em Saúde



Estava eu acompanhando o noticiário local nos últimos acontecimentos sobre os problemas enfrentados pela sociedade acreana, não diferente ao resto do nosso Brasil, em relação ao atendimento por parte da saúde, caso crônico que até os dias atuais não se resolveu.
Voltando no tempo antes do século XVIII, ou seja, antes do positivismo, o hospital era essencialmente uma instituição de assistência dirigida aos pobres, já que os ricos levavam os recursos médicos para suas casas. Apesar de ser uma instituição de assistência, o hospital servia também como recurso de exclusão social, pois, o pobre, como pobre, tinha necessidade de assistência e, se fosse também doente, poderia ter alguma doença contagiosa, logo, poderia ser perigoso. Além disso, o pobre poderia estar louco, ou seja, oferecer mais perigo ainda. Por conta disso o hospital existia tanto para acolher esses pobres, quanto para proteger a sociedade do perigo que ele representa.
De certa forma, não se pretendia a cura para o usuário do hospital até o século XVIII, mas sim uma assistência material e espiritual, em alguns casos pretendia-se dar os últimos cuidados ou o último sacramento.
Com a evolução dos tempos e a explosão do conhecimento e da técnica, com o aprimoramento crescente dos meios de diagnóstico e tratamento, houve uma inversão no papel dos hospitais, quase ou tão incômoda quanto a situação anterior, ou seja, ao se abordar técnica e cientificamente a doença, confortar e consolar o doente passaram a ser coisas do passado. Pelo que se sabe da realidade dos pacientes, tem sido muito freqüente ouvir nos corredores dos hospitais em alto e bom som, que não se teme tanto a morte, em si mesma, quanto a dor e os sofrimentos relacionados ao processo de morrer.
Em sua maioria as pessoas procuram os hospitais para a resolução de suas doenças e alivio do sofrimento pó elas causadas, não necessariamente nessa ordem. Mas essa problemática da dor e do sofrimento não é uma simples questão técnica, pois a intencionalidade solidária, fraterna e confortadora depende mais de uma atitude do caráter do que do conhecimento. Muito embora a ciência contribua, sobremaneira, para soluções eficientes aos problemas de saúde, o sofrimento humano diz muito mais respeito à ética que à técnica.
Trazendo essa questão aos exemplos atuais. Se no século XVIII as pessoas ofereciam atenção e cuidados humanos aos pacientes porque a ciência não podia oferecer mais nada, hoje a ciência tem muito a oferecer, mas as pessoas não oferecem mais nada além da técnica. A maioria dos profissionais desses ambientes privilegia a técnica em franco desprezo para com a questão humana.
Levando para o lado humano observa-se que alguns profissionais de saúde consideram como sofrimento exclusivamente o padecimento físico, deixando de considerar o sofrimento global da pessoa. Esse cientificismo costuma adotar a curiosa posição de "não permitir" o sofrimento subjetivo ao paciente, já que os conhecimentos objetivos sobre determinada doença definem tecnicamente o tanto de sofrimento que o paciente "deve e pode se permitir".
É de se convir que os avanços no conhecimento técnico científico melhorou muito a qualidade de vida e a expectativa de vida do ser humano facilitando a detecção de doenças, tanto no diagnóstico como no tratamento, tanto na prevenção como na cura das doenças, tudo isso refletindo diretamente no conforto pessoal, na qualidade de vida e na longevidade das pessoas. Entretanto, o avanço tecnológico trouxe consigo também um aspecto frio e mecânico, maquinal, reducionista e algo desumano na relação entre as pessoas. A crítica ao positivismo é que ele ensinou a todos o preço das coisas, mas não ensinou a ninguém o valor das coisas. Talvez tenha sido um mal necessário.
Atualmente as conseqüências do desenvolvimento da tecnologia no relacionamento entre as pessoas estão sendo detectadas, estudadas e enfrentadas, buscando-se um equilíbrio capaz de dosar o uso dos equipamentos sofisticados e de última geração e o relacionamento humano entre as pessoas, buscando um equilíbrio entre o mecanicismo frio da técnica, entre os cálculos complicados da economia e entre o utilitarismo das coisas, com a compreensão das necessidades afetivas das pessoas, enfim procurando equilibrar a idéia dos preços com a noção de valores.
Afinal, o que é ser um profissional humanizado?
Em razão do desenvolvimento tecnológico na medicina, em particular, alguns aspectos mais sublimes do paciente, tais como suas emoções, suas crenças e valores, ficaram em segundo ou terceiro planos. Apenas sua doença, objeto do saber cientificamente reconhecido, passou a monopolizar a atenção do ato médico, portanto, com esse enfoque eminentemente técnico a medicina se desumanizou.
Humanizar o atendimento não é apenas chamar o paciente pelo nome, nem ter um sorriso nos lábios constantemente, mas, além disso, também compreender seus medos, angústias, incertezas dando-lhe apoio e atenção permanente.
Humanizar também é, além do atendimento fraterno e humano, procurar aperfeiçoar os conhecimentos continuadamente é valorizar, no sentido antropológico e emocional, todos os elementos implicados no evento assistencial. Na realidade, a Humanização do atendimento, seja em saúde ou não, deve valorizar o respeito afetivo ao outro, deve prestigiar a melhoria na vida de relação entre pessoas em geral.
É claro que o tema aqui abordado é Humanização do Atendimento em Saúde, entretanto, tomando-se por base esses quesitos, quem não gostaria de vê-los humanizados em todas as dimensões da vida em sociedade e não apenas no atendimento em saúde. Não encontramos razões plausíveis para que o apelo de humanização seja exclusivo para área de saúde, já que essa área é tão carente em humanização quanto as demais.
As dificuldades de humanização começam pelo lado do paciente. É fundamental considerar, para a humanização do atendimento, se o paciente está inserido em um contexto pessoal, familiar e social satisfatório.
Em segundo, a assistência à saúde deve priorizar as necessidades pessoais e sociais do paciente. Há um bom número de médicos que diagnosticam muito bem e prescrevem tratamentos primorosos, entretanto, não têm a mínima noção (e pior, a mínima preocupação) em saber se o paciente pode adquirir os medicamentos. Como costumam dizer, esse problema não é deles.


Enquanto isso, em um hospital...:
- Bom dia, é da recepção?
Eu gostaria de falar com alguém que me desse informações sobre os pacientes. Queria saber se certa pessoa está melhor ou piorou...
- Qual e o nome do paciente? - Chama-se Maria Isabel e está no quarto 302.
- Um momentinho, vou transferir a ligação para o setor de enfermagem...
- Bom dia, sou a enfermeira Lourdes. O que deseja?
- Gostaria de saber as condições clínicas da paciente Maria Isabel do quarto 302, por favor!
- Um minuto, vou localizar o médico de plantão.
- Aqui é o Dr. Carlos plantonista. Em que posso ajudar?
- Olá, doutor. Precisaria que alguém me informasse sobre a saúde de Maria Isabel que está internada há três semanas no quarto 302.
- Ok, minha senhora, vou consultar o prontuário da paciente... Um instante só!
Hummm, aqui está: ela se alimentou bem hoje, a pressão arterial e pulso estão estáveis, responde bem à medicação prescrita e vai ser retirada do monitor cardíaco até amanhã. Continuando bem, o médico responsável assinará alta em três dias.
- Ahhhh, Graças a Deus! São notícias maravilhosas! Que alegria!
- Pelo seu entusiasmo, deve ser alguém muito próximo, certamente da família?
- Não, sou a própria Maria Isabel, telefonando aqui do 302!
É que todo mundo entra e sai do quarto e ninguém me diz coisa nenhuma!...

O maior risco do medo é o medo


Apesar da aparente inconsistência, o título deste post não está errado - ao menos no que se refere à sua grafia.

Após a recente tragédia no Japão, o perigo muda de figura e toma corpo numa ameaça global: um desastre nuclear. Em pavorosas cenas transmitidas online por todos os meios disponíveis, acompanhamos em tempo real o derretimento dos reatores das usinas japonesas, um após o outro.
Alimentados pela parte da mídia que tira seu sustento do pânico e da desinformação, a população vê crescer o temor de um desastre de proporções bíblicas e busca proteção ante o iminente avanço de um Quinto Cavaleiro Apocalíptico.
TVs e jornais pintam em cores vivas e fosforecentes um monstro radioativo que a todos destruirá, espalhando sua praga cancerígena por todo o planeta.
Loch-ness1Mais do que a contaminação radioativa, o medo de tal catástrofe é capaz de gerar mais danos do que a própria ameaça em si. No rastro da ignorância coletiva, a disseminação do pânico cresce e amealha apavorados seguidores mundo afora.
A contaminação radioativa tem posição de destaque no ranking de medo que povoa o imaginário popular, alimentado pela ficção que transforma em monstros aqueles expostos a algum tipo de material nuclear.
Tratados como párias leprosos, muitos experimentam preconceitos pelo simples fatos de serem oriundos de locais atingidos por este tipo de tragédia, seja Chernobyl ou mesmo Goiânia.
Moradores da costa oeste americana já esgotaram os estoques de pílulas de iodo para se prevenir da radiação que, imaginam, pode pegá-los na curva. Os laboratórios contam os lucros, tal como fizeram ao vender vacinas para uma mortífera epidemia de gripe que nunca chegou.
Do mesmo modo, milhares de pais deixaram de vacinar seus filhos aos primeiros boatos de que as vacinas poderiam causar autismo, dando margem ao retorno de uma doença erradicada há decadas. É o típico caso de trocar uma especulação por um perigo real e imediato.
O estresse e a ansiedade causados pelo pânico generalizado, mesmo em áreas afastadas, têm efeitos tão ou mais nocivos do que a própria radiação, segundo Fred Mettler, da Universidade do Novo México.
Estudos com 80.000 sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki relatam que cerca de 9.000 morreram de algum tipo de câncer, apesar de apenas 500 deles terem sido efetivamente causados pela exposição à radiação das bombas lá detonadas - mesmo aqueles artefatos tendo sido destinados com fins de destruição.
Segundo os cientistas, a radiação emitida pelas bombas atômicas aumentam em 40% as chances de uma pessoa desenvolver câncer de pulmão, por exemplo, enquanto que fumar um maço de cigarro por dia eleva o mesmo risco em 400%.
Um reator nuclear não causa uma explosão com aquele cogumelo que cobriu Hiroshima e Nagasaki. Fora os trabalhadores da própria usina, os demais moradores receberiam uma carga semelhante a um raios-X convencional, segundo Gregg Easterbrook.
O mesmo autor lembra que desde o último grande acidente numa usina nuclear (Chernobyl, 1986) passaram-se 25 anos sem que nenhum outro incidente grave fosse registrado. Menos de cem mortes foram registradas em desastres deste tipo, enquanto que usinas termelétricas ou perfurações de poços de petróleo matam aos milhares.
 Embora os especialistas da área se esforcem para conter a histeria coletiva causada pela liberação de material radioativo das usinas japonesas, parte da população já se apressa numa inócua prevenção, esperando sempre pelo pior. Mas neste caso específico, o pior é exatamente o medo que você escolhe sentir.

Equipes: como crescer com as diferenças


Desafio dos líderes é conhecer as preferências pessoais dos liderados e, assim, transformar diferenças em diversidade

No mundo corporativo atual, urgência e inovação são palavras de ordem. Atender com rapidez e criatividade se tornou um pré-requisito para o sucesso de uma empresa. Sendo assim, o papel do líder se torna cada vez mais decisivo para a conquista da eficiência e produtividade.

A necessidade de mudanças e a constante busca por novos modelos que atendam as demandas emergentes, fruto de um mercado cada vez mais exigente, requer que o líder saia do papel de autoridade e comandante para exercer um papel de facilitador e desenvolvedor de talentos.

A necessidade de se conhecer e obter o melhor de seus colaboradores tirou o líder de ontem de sua cadeira e o colocou cada vez mais próximo de seus funcionários no mundo corporativo atual. Relacionamento interpessoal, coaching, comunicação tornaram-se palavras de ordem para o líder. Mas, por outro lado, muitos gestores não têm tempo para conhecer os interesses e características pessoais de seus funcionários, sendo que muitas vezes não têm nem mesmo habilidade para tal.

Uma abordagem de comunicação utilizada pode ser eficaz com uma pessoa, mas totalmente ineficaz com outra. E, apesar de o gestor acreditar estar fazendo o melhor na relação com seu colaborador, acaba muitas vezes não obtendo o resultado esperado. Não basta saber fazer, é preciso conhecer o colaborador. Muitas vezes interpretamos de modo errado a atitude de uma pessoa simplesmente porque não conhecemos as suas preferências na forma de trabalhar, que são justamente suas fortalezas.

Minimizar esse tipo de engano e conhecer as características psicológicas dos grupos é de extrema importância, até mesmo para resolver crises dentro das equipes de trabalho geradas pelas diversas versões de mundo que cada colaborador traz consigo. Mapear as diferenças pessoais serve para complementar e ampliar a visão das empresas a respeito de seus recursos humanos, antecipar soluções e diminuir os pontos cegos que são negligenciados pelas limitações existentes em todas as pessoas.

  Imagem: René Mansi/ iStockPhoto  
  equipe  
  
 A necessidade de se conhecer e obter o melhor de seus colaboradores
tirou o líder de ontem de sua cadeira e o colocou cada vez mais próximo
de seus funcionários 
  


Para ilustrar, vamos criar dois personagens fictícios, mas que são bem "reais" nas corporações: a Kátia e o Carlos. A primeira é uma profissional tímida, boa executora de tarefas e atenta aos detalhes. O segundo é expansivo, desorganizado e com uma ótima visão do macro. Em uma equipe de trabalho multidisciplinar em que os colegas sabem de suas características e as dos outros, essas personalidades seriam consideradas complementares da seguinte forma: Carlos veria o todo do projeto e como executá-lo, e Kátia o ajudaria percebendo os detalhes que não estariam bem amarrados, as mudanças necessárias para que ele fique completo e auxiliaria na iniciativa de colocá-lo em prática.

No exemplo acima, caso o líder e os colaboradores não possuam essa consciência em relação a si e ao outro, essa ajuda na execução poderia ser interpretada de outras formas, gerando assim desconfianças entre os colegas, o que derrubaria a produtividade do setor.

Por esse motivo, a gestão de equipes é a forma mais eficaz de conseguir motivação, confiança e produtividade dos colaboradores. Para fazê-la de uma maneira eficaz, o Myers-Briggs Type Indicator (MBTI®) é o instrumento mais indicado para ser aplicado nos funcionários de uma empresa.

No mundo, mais de dois milhões de pessoas respondem a ferramenta por ano e, no Brasil, já foram mais de 143 mil nos 15 anos em que está aqui. Desenvolvido com base na teoria dos tipos psicológicos de Carl Gustav Jung, o instrumento identifica quatro preferências pessoais, com base em funções e atitudes psicológicas, que somadas caracterizam o tipo psicológico do indivíduo. Ao todo são 16 tipos.

Uma pesquisa com base neste método identificou que os brasileiros preferem, em sua maioria, ambientes de abertura, interação, comunicação e sociabilidade. Um profissional com esta preferência se sentiria mais motivado em profissões nas quais as chances de interagir e comunicar-se são maiores. Claro que isso não significa que uma pessoa com essas preferências psicológicas não possa trabalhar como programador, por exemplo.

Significa apenas que, para um gestor ter uma equipe heterogênea, ele precisa saber lidar com as diferenças do seu grupo, de acordo com as preferências individuais. Para garantir o sucesso de seu time e de cada indivíduo que o integra, o líder pode lançar mão de todos os recursos disponíveis para o autoconhecimento e gestão de conflitos que possam auxiliá-lo em sua missão, bem como auxiliar seus pares a seguirem o mesmo caminho.

Ao identificar as preferências pessoais de seus colaboradores e mapear a sua equipe, o líder põe à prova toda a capacidade existente em seu grupo conseguindo o máximo de resultados dos indivíduos que o compõe. Além disso, consegue minimizar a incidência de problemas que vão na contramão das preferências pessoais de cada integrante e que geram o baixo desempenho. Pois reduz significativamente o estresse e a desmotivação.

Ao conhecer e tomar decisões que agreguem valor às pessoas, o líder ampliará o comprometimento e a dedicação de sua equipe. Afinal de contas, pesquisas nos mostram que o salário não é o principal motivo pelo qual as pessoas permanecem em uma determinada corporação. O ambiente de trabalho, incluindo o relacionamento com o líder e com os colegas, e a possibilidade de desenvolvimento profissional são os grandes protagonistas do sucesso das pessoas em seus meios de trabalho.

Maria Portela - é Consultora de Desenvolvimento Organizacional, formada em psicologia pela PUC-SP, pós-graduada em Comunicação e Cultura pela Universidade de Lisboa.

Roberta Brandi - é Gerente de Relacionamento, formada em psicologia pela PUC-SP, pós-graduada em Mediação de Conflito também pela PUC- SP. 

Você tem o costume de dizer “amanhã eu faço”?


Veja as implicações das pessoas que sempre deixam as tarefas para a última hora ou para o dia seguinte.

Adiar a realização de uma tarefa é algo comum na vida das pessoas, para exemplificar esta questão basta responder a uma pergunta simples: quem nunca adiou o preenchimento da declaração de imposto de renda?

Embora pareça um traço da nossa cultura, deixar para amanhã não é uma exclusividade dos brasileiros, mas sim uma característica do ser humano que pode ser potencializada ou atenuada por fatores culturais e/ou educacionais.

Poucas pessoas podem dizer que nunca deixaram para depois alguma tarefa particularmente onerosa, seja física ou psíquica, mesmo tendo tempo de sobra para realizá-la.

Procrastinação é o adiamento de uma ação. É o deixar para outro dia ou para um tempo futuro. Os motivos desse adiamento podem ser justificados de diversas formas, como medo do fracasso, mentalidade autodestrutiva, perfeccionismo, etc. Até certo ponto, procrastinar pode ser considerado normal, mas exige uma atenção especial quando se torna crônico, pois pode ser sinal de alguma desordem psicológica ou fisiológica.

Existem dois tipos de procrastinadores, os relaxados e os tensos.

No grupo dos relaxados a questão é vista como uma situação que causaria desprazer. O indivíduo, diante da necessidade de realizar uma tarefa no momento em que esta é exigida, busca atividades mais prazerosas. Na pratica, acaba deixando de lado tarefas importantes para buscar um prazer (muitas vezes fugaz) para tentar fugir da realidade.

Quanto ao grupo dos tensos a procrastinação surge como uma ferramenta de relaxamento, porém pouco eficaz. Por regra, frente a uma atividade percebida como geradora de pressão, releva sua importância e adia sua realização e, conseqüentemente, seu peso para o dia seguinte.

A compreensão básica (ou desculpa) por trás da dinâmica é que adiando a realização é possível descansar e no dia seguinte estar mais relaxado e disposto para enfrentar o desafio. Acontece que no dia seguinte a história se repete deixando o prazo da conclusão da atividade cada vez mais curto. O circulo vicioso que se forma aumenta o estresse além dos sentimentos de ansiedade e frustração.

Estabelecido o ciclo, o que se encontra é uma sucessão de atrasos, perdas de prazos e fracassos, enquanto desejos, objetivos e até mesmo sonhos pessoais são deixados de lado, amontoados em uma pilha sob a etiqueta "amanhã eu faço".

Imaginar a quantidade de atividades e atitudes que acabamos deixando para amanhã durante os anos da nossa existência, dá uma noção do prejuízo que acumulamos.

Apenas para refletir melhor sobre a dimensão que o procrastinar pode adquirir, quando deixamos de olhar apenas para as tarefas e nos voltamos às pessoas, podemos também contabilizar o que deixamos de oferecer.

Por fim é preciso deixar claro que não é sensato confundir procrastinação (o adiar da realização) com preguiça. Esta pode ser interpretada também como aversão ao trabalho, negligência, indolência, morosidade, lentidão ou moleza. Um conceito bem diferente.

Mas nem tudo está perdido. Compreender melhor como reagimos aos desafios e, principalmente, agir de uma forma diferente quando eles se apresentam pode fazer a diferença.

Este simples texto começou a ser escrito a cerca de três semanas e concluído em menos de uma hora, quando percebemos que não havia absolutamente nada de desagradável em escrevê-lo. Realmente não faz sentido adiar uma tarefa, um abraço, uma desculpa ou um simples "eu te amo". 


*Atualizado 08:44

Siga os posts do Administradores no Twitter: @admnews.