quinta-feira, 17 de maio de 2012

Economistas afirmam que impacto da alta no dólar sobre exportações levará tempo a ser sentido

Agência Brasil A alta do dólar, que voltou fechar acima de R$ 2 e está no maior nível em três anos, não melhorará as exportações de imediato, avaliam especialistas ouvidos pela Agência Brasil. Segundo os economistas, a rigidez nos contratos comerciais e as turbulências nos países desenvolvidos servirão como freio para a alta nas vendas externas. Para o economista-chefe da consultoria Austin Rating, Alex Agostini, um eventual aumento das exportações será resultado de fatores sazonais, como o início da safra de soja. A depreciação do real, avalia, não terá quase nenhum impacto sobre as vendas para o exterior. “O saldo da balança comercial pode até melhorar, mas isso ocorrerá por causa de queda das importações, que ficaram mais caras. Não pelo lado das exportações”, diz. - Se estivéssemos num momento de expansão econômica nos países desenvolvidos, a subida do dólar teria efeito positivo sobre as exportações. O problema é que hoje enfrentamos um cenário de crescimento moderado nos Estados Unidos, desaceleração da China e recessão na zona do euro – declara Agostini. “Não adianta ter um dólar valorizado sem mercado comprador”. Outro fator que atrasará a influência do dólar sobre as exportações é o fato de que os contratos comerciais são fechados com bastante antecedência. Dessa forma, eventuais efeitos do aumento da moeda norte-americana levariam meses para serem sentidos. “A maioria dos contratos das exportações de hoje foi fechado há seis meses. A alta do dólar hoje só influenciará as vendas externas lá para o fim do ano”, destaca. Apesar dos efeitos tardios sobre as exportações, a alta do dólar serve de incentivo para a melhoria da competitividade dos produtos brasileiros. No entanto, de acordo com o André Nassif, professor de economia internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV), o efeito só será duradouro se o governo mudar a política em relação ao câmbio e impuser mais medidas de controle do capital que entra no país. - Em diversos momentos nos últimos anos, o câmbio se depreciou de forma violenta, mas o Banco Central e o Ministério da Fazenda não fizeram nada para impedir que o dólar voltasse a cair – reclama Nassif. Para ele, a cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre o capital estrangeiro aplicado em renda fixa e na Bolsa de Valores, estratégia adotada pelo governo para conter a queda do real, mostrou-se ineficaz. Na opinião de Nassif, o câmbio voltará a cair quando a instabilidade na economia europeia diminuir, mesmo com as taxações para o capital especulativo nos últimos tempos. Ele sugere medidas mais radicais, como a quarentena para os recursos estrangeiros que entrarem no Brasil, inclusive os investimentos diretos (que geram empregos). “Os asiáticos fazem política cambial muito mais agressiva que o Brasil e tem dado certo por lá”, ressalta. O professor da FGV reconhece que a instituição de uma quarentena sobre os capitais externos teria impacto sobre a inflação. Ele, porém, diz que o Banco Central tem mecanismos para lidar com a alta dos preços sem necessariamente interromper a queda da Selic, taxa básica de juros da economia. “Somente se o Brasil resolver o câmbio desalinhado, os preços relativos voltarão ao lugar e o país será capaz de atingir o crescimento sustentável, tanto das exportações como da economia em geral”, conclui.

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