A violência social que ocorre no
Brasil e se expressa nos indicadores epidemiológicos e criminais a partir de
eventos letais e não letais tem demonstrado uma magnitude e uma intensidade sem
precedentes, maiores até do que as observadas em países em situação de guerra.
As taxas de mortes por causas
violentas nos principais centros urbanos brasileiros estão entre as mais altas
do continente americano, expressando uma tendência de crescimento que desde a década
de 1980 vem se acentuando. Dados do Ministério da Saúde informam que o Brasil
passou de 59,0 mortes por causas externas (acidentes e violências) por 100 mil
habitantes na década de 1980, para 72,5 em 2002. Países da Europa Ocidental têm
taxas inferiores a 3 mortes intencionais por 100 mil habitantes e os Estados
Unidos encontram-se na faixa de 5 a 6 mortes intencionais por 100 mil
habitantes.
Vários estudos no país têm mostrado
que a violência afeta a população de modo desigual, gerando riscos
diferenciados em função de gênero, raça/cor, idade e espaço social. Ademais, as
taxas de mortes violentas só refletem a ponta de um enorme iceberg cuja
magnitude dos eventos não letais é ainda muito maior, mesmo se considerando a
existência de sub-registros.
Apesar de ser um fenômeno visivelmente
mais intenso nas áreas urbanas de maior densidade populacional, acumulando
cerca de 75% do total das mortes por causas externas, estudos recentes
revelaram um outro processo que se desenvolveu na sua dinâmica, ao qual alguns autores
denominam interiorização da violência. Esta decorre, entre outras causas, do
percurso do tráfico de drogas em municípios do interior de vários Estados
brasileiros, alguns dos quais produzindo-as e outros atuando como corredor para
o seu transporte.
A
sobremortalidade masculina é uma manifestação também observada em outras
sociedades. Entretanto, é relevante a intensidade com que a violência vem
dizimando pessoas do sexo masculino em nosso país, com sérias conseqüências na estruturação
econômica, social e familiar, principalmente em relação aos adolescentes e
adultos jovens nos quais se concentram as maiores taxas de homicídios.
Esse
problema vem despertando a curiosidade de vários pesquisadores que têm abordado
a questão do gênero para compreender as intrincadas relações entre juventude,
masculinidade e violência.
A
necessidade de buscar explicações para compreender a onda de violência que
assola as cidades brasileiras mostra que é preciso trabalhar na interseção das
teorias da exclusão social, do crime organizado e do quadro institucional e
cultural em que a criminalização do uso de drogas se insere no Brasil.
Fatores
como o desemprego, a desestruturação familiar, o sentimento de frustração e uma
busca desenfreada de padrões sociais apresentados como possíveis em um mundo de
consumo se acirram principalmente nos grandes centros urbanos e contribuem para
a delinqüência e a violência.
Extraído do artigo: Panorama da violência urbana no Brasil e suas capitais
Autores : Edinilsa Ramos de Souza 1
Maria Luiza Carvalho de Lima 2
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