Funai anuncia descoberta de tribo indígena nunca contactada por homem branco
23/6/2011 13:55,
Por Redação - de Brasília
Pesquisadores brasileiros anunciaram, nesta quinta-feira, a descoberta de uma das últimas tribos
indígenas não contactadas pela civilização ocidental, em um ponto
remoto da Floresta Amazônica. Fotos aéreas reveladas pela Fundação
Nacional do Índio (Funai) ao canal árabe de TV Al Jazeera
mostram quatro grandes construções no Vale do Javari, na tríplice
fronteira com o Peru e a Bolívia. Diretor da Funai, Aloysio Guapindaia
garantiu que o governo brasileiro trabalha no sentido de preservar a
tribo encontrada do contato com o homem branco como forma de
preservá-los de doenças desconhecidas por seu sistema imunológico.
Ainda segundo Aloysio Guapindaia, a tribo localizada pertence ao
grupo linguístico Pano, difundido na região amazônica e alto Mato
Grosso, onde outras tribos ainda não contactadas subsistem à
exploração da madeira e de outras riquezas encontradas no solo. Até
agora, ainda existem nove grupos não contactados naquela área e, em todo
o país, são mais de 50 referências – sinais de sua existência em
determinada região. No Estado, eles permanecem embrenhados nas matas dos
municípios de Cotriguaçu, Apiacás, Aripuanã, Tabaporã, Juara, Juína,
Comodoro e Colniza.
Outro sertanista, José Carlos dos Reis Meirelles, que chefia a Frente
de Proteção Etno-Ambiental do Rio Envira, diz em um artigo publicado
recentemente que já se sabia, “de antemão, da presença de madeireiras
legais e ilegais explorando mogno nas cabeceiras dos rios Juruá, Envira,
Purus e seus afluentes. Mas tudo de ruim que imaginava não chega nem
perto da realidade. O que ocorre naquela região é um crime monumental
contra a natureza, índios, fauna, além de um atestado da mais pura
irracionalidade de como nós, civilizados, tratamos o mundo, casa de
todos nós”.
“É preciso considerar que esses povos isolados não sabem o que é a
civilização, e quando encontram algum sinal de civilização, ou atacam ou
fogem. Mesmo quando fogem, acabam entrando em conflitos. O governo
brasileiro e o governo peruano sabem de tudo isso, mas não movem uma
palha ao menos para tentar solucionar a questão. Tudo fica nos
protocolos de intenção, em atas de reuniões, em salas refrigeradas de
encontros binacionais. Nada além disso. A principal causa do
desmatamento na fronteira com o Peru é demanda de madeiras nobres, como o
mogno, usado para fazer móveis ‘coloniais’, principalmente caixões”
acrescentou.
Presentes e doenças
O velho método de contato usado por anos a fio foi deixado para trás.
Nada de se apresentar, levar presentes e novos moldes culturais para os
grupos isolados.
– Quando se faz isso, eles adoecem, se sedentarizam e mudam de hábitos – explicou a jornalistas o indigenista Juscelino Melo.
A Funai agora apenas observa de longe os movimentos dos indígenas, a
fim de conhecer suas características e poder demarcar uma área adequada à
sobrevivência do grupo. Esta é, aliás, a tentativa do órgão com os
índios descobertos na serra Morena. Depois de estudar seus hábitos, o
que era uma área de restrição se adequa e torna-se uma reserva indígena –
em que o encontro entre brancos e índios, apesar de inevitável, é
adiado ao máximo.
Não se sabe qual o parentesco do grupo isolado de Colniza com etnias
das imediações. Mas tanto os índios cinta-larga quanto os arara – ambos
habitantes daquela região do estado – reconheceram os artefatos
recolhidos nos acampamentos como semelhantes aos que produzem. “Por
enquanto, podemos dizer apenas que há grandes chances de serem um braço
dos índios tupis”, apontou Melo.
Busca começou em 1999
Quando souberam que a região da serra Morena poderia abrigar um grupo
indígena não contactado, funcionários da Funai organizaram a primeira
expedição, em meados de 1999. O primeiro passo foi tentar extrair
informações do funcionário da madeireira, o primeiro a avistar os
vestígios. Mas a tentativa não vingou:
– Ele queria R$ 20 mil para mostrar onde era a área – lembrou o indigenista Juscelino Melo.
A equipe partiu então para outras estratégias. Juntou pistas
informadas por fazendeiros da região, até encontrar a mesma picada que,
tempos antes, havia sido aberta pelo primeiro a avistar o achado.
Seguindo o rastro do trabalhador da madeireira – que perderam em muitas
ocasiões – a Funai conseguiu encontrar o acampamento indígena. Isso
depois de oito dias de viagem, e 160 quilômetros de trecho.
Ao final do “picadão”, os pesquisadores depararam-se com uma vigia de
espera. Trata-se de uma espécie de camuflagem, usada por índios para
observar a passagem de animais. À frente, encontraram dois abrigos de
palha, que aparentemente acolheram um par de famílias. Mais tarde, nova
dupla de malocas de palha foi descoberta, seguindo os mesmos padrões.
Junto aos abrigos, uma fartura de artefatos: imensos cochos de palmeira
trançada para fazer bebidas, cestos de palha, pedras de quebrar cocos,
abanos, esteiras e assim por diante.
Segundo os cálculos de Juscelino Melo, as duas moradas deveriam
abrigar oito pessoas. Ainda é cedo para saber se elas são os únicos
indivíduos do grupo, ou uma parcela desgarrada de uma comunidade maior,
que perambula pela região. Uma das características observadas pela Funai
é que os índios produzem utensílios a cada novo acampamento – costume
interpretado como a busca de mobilidade, em caso de fuga.
Seja qual for a hipótese, não há mais muito espaço para se locomoverem.
– Por isso, é importante preservar a área que ainda existe – observou Melo.
Os 160 mil hectares pleiteados pela Funai são ocupados por fazendas,
madeireiras e poucos seringueiros, copaibeiros e coureiros,
sobreviventes da decadência das três atividades.
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